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Entrevista - Autoconhecimento é a chave para SUCESSO




Entrevista concedida ao Sindcont-SP, como uma forma de contribuição para o desenvolvimento dos profissionais da área.

Na verdade, o teor dessa entrevista transcende os limites da contabilidade sendo válida para profissionais em geral.

Veja abaixo a íntegra da entrevista editada a partir da página 30 do periódico.


- Como é que o processo de autoconhecimento pode ajudar os profissionais em seus trabalhos?

Antes de ir direto ao ponto da pergunta, gostaria de definir os 4 campos da configuração humana passíveis de influência no desempenho em áreas da vida: Físico, Mental, Emocional e Espiritual. A ordem disposta coincide com grau de proximidade que, de um modo geral, guardamos para cada um desses campos. Podemos ver e conhecer nosso corpo físico por fora e por dentro, através da tecnologia de imagem cada vez mais avançada na área da medicina diagnóstica. Esta condição nos permite conhecer e estabelecer marcas de melhoria de performance ou de acompanhamento na cura de uma enfermidade. Quando iniciamos um programa de condicionamento físico em uma academia, fazemos uma avaliação inicial registrando alguns marcadores. Esta será a base de comparação para constatação do sucesso do plano de treinamento traçado. Pois bem, fica muito claro que o fator conhecimento da base de partida para qualquer trajetória é extremamente importante, no entanto, em um percurso de carreira profissional, ficamos obsessivamente fixados na busca de conhecimentos técnicos, externos inerentes a profissão escolhida com pouca exposição ao conhecimento das habilidades humanas que carregamos e as que serão requisitos essenciais para atingimento de nosso propósito.

Estamos vivendo um tempo de grandes e aceleradas mudanças no mercado, principalmente quando grande parte da carga de trabalho, anteriormente mantidas manualmente, desaparece transformando se em rotinas integradas no interior das máquinas com aprendizado autônomo. Diante disso, apesar o sentimento de insegurança, é preciso de dar conta de que essa reviravolta pode ser motivação para um grande salto qualitativo. Novas habilidades deverão ser desenvolvidas, um novo conjunto de métricas começam despontar como percepção de sucesso dos profissionais atuantes. Aí que entra então a vital necessidade do autoconhecimento, somente através da capacidade de redirecionamento da lente para si, através de um programa qualificado de autodescoberta o ser humano de qualquer área de especialização poderá estabelecer marcas de que servirão como ponto de partida para o crescimento na direção da demanda do futuro das profissões.


- O senhor acredita que o autoconhecimento pode auxiliar o profissional no processo de educação profissional continuada, uma vez que estamos falando de profissões que passa mudanças profundas a todo momento?

Mais do que uma crença, trata-se de um caminho sem muitas alternativas para todas as profissões. Estamos vivendo o olho do furacão daquilo que, já há algum tempo, chamamos de quarta revolução industrial. O componente mais recente desse pacote é o uso cada vez mais presente da Inteligência Artificial. Precisamos desapegar definitivamente dos atributos mecanicistas enraizado em nossa atuação profissional. Todos os profissionais atuantes hoje, principalmente os de gerações menos recentes, têm que se reinventar dentro do leque de capacitações abandonadas ou deixadas para segundo plano com a implantação de um sistema de trabalho fragmentado, setorizado com processos de montagem oriundos da revolução industrial. É preciso tomar as rédeas e protagonizar essa transformação através de iniciativas de reeducação privilegiando e resgatando a essência humana negligenciada.


- Quais são as maiores dificuldades, a seu ver, para o profissional, de expandir sua consciência através das experiências vivenciadas?

Sempre que nos dedicamos a novos aprendizados desafiamos nossa percepção sobre o campo de conhecimento estudado. Este novo conteúdo cria conexões, refaz conceitos ou amplia visões já existentes. Quando se trata de um objeto externo, ainda que muito complexo, conseguimos ir desvendando e progredindo em sua compreensão. Quando estudamos nossa própria concepção do mundo com a intenção de evolução, além da dificuldade natural, esbarramos em crenças muito enraizadas, valores edificados pela somatória de experiências vividas desde que chegamos a este plano. Este acervo tem uma relação muito estreita com a nossa identidade, a forma como nos definimos, e este aspecto, por si só, cria uma barreira ameaçadora para conseguirmos avançar da zona de conforto para a zona do aprendizado. É preciso coragem, desprendimento e resiliência.

No ambiente profissional esse bloquei só aumenta devido a questões culturais. A constatação é de que devemos agir de uma forma padrão, linear, atendendo aos requisitos de pertencimento dos costumes do local. Como profissionais, queremos progredir, ou pelo menos manter nossos contratos de trabalho. Para tanto acabamos adaptando nosso comportamento ao que percebemos ser o esperado. Se a cultura da empresa e o estilo de liderança estiver mais inclinado para um modo autoritário de comando e controle, por mais que sejamos criativos e expansivos, com o tempo, acabamos inibindo essas qualidades naturais em troca da manutenção da fonte de renda.

Como resultado, os profissionais encontram grandes dificuldades de expansão da consciência com suas experiências por dois fatores: por um lado enfrentam dificuldades internas de romper com os elos da corrente das próprias crenças; por outro lado, suas experiências em ambiente profissional não os conduzem a uma jornada desafiadora nesse sentido valorizando sistematicamente os que se enquadram no modelo existente.


- E o que fazer para vencer os obstáculos, principalmente os de cunho emocional?

Existe uma resposta óbvia mais ligada ao aspecto prático dependente exclusivamente do controle do profissional no exercício de suas atividades: estar sempre atualizado com novas técnicas e questões procedimentais da profissão. Por outro lado, existem fatores que impactam diretamente o seu desempenho com um grau mais sofisticado de complexidade, principalmente quando estamos na liderança de uma equipe.

Podemos recorrer aqui ao ensinamento conquistado em anos de estudos no campo da Inteligência Emocional (I.E.) tendo Daniel Goleman como seu autor mais em evidência. Goleman cunhou a seguinte definição: “é uma forma diferente de inteligência, composta principalmente de autoconhecimento, controle dos impulsos, persistência, automotivação, habilidade social e capacidade de perceber sentimentos alheios”. Os quatro pilares da I.E. são: autoconsciência: conhecer a si próprio e os impactos que causamos; autogerenciamento: autocontrole emocional, transparência, adaptabilidade e positividade; consciência social: empatia, consciência organizacional e disposição para servir; gestão de relacionamentos: inspirar e desenvolver outros, influência, construir vínculos e trabalho em equipe.

Fica muito fácil compreender a teoria que sustenta a I.E. o difícil será fazer ajustes fundamentais no comportamento uma vez que esbarramos em questões emocionais para pôr em prática de forma natural seus fundamentos.

A primeira coisa que precisamos definir com muita clareza é o nosso propósito na fase de vida que estamos. Esta será a razão de tudo para elaborarmos nosso plano de ação e enfrentarmos os obstáculos. A segunda coisa funcionará como um viabilizador eficaz no enfrentamento das dificuldades, principalmente as emocionais: ter a capacidade de estar plenamente no momento presente acessando integralmente nosso máximo potencial e neutralizando as interferências de uma mente que se perde em pensamentos ligados a preocupações do passado ou projeções desastrosas futuras. Conteúdos mentais dessa natureza não contribuem em nada para o que queremos atingir no exato momento que estamos vivendo e servem apenas para despertar sentimentos negativos de: raiva, medo, culpa etc.

A ciência já provou que a gestão da atenção abre caminho para a regulação emocional (D. Goleman). O treinamento atencional que vem cada vez mais aumentando sua popularidade no meio organizacional é a prática da Atenção Plena (Mindfulness) devido seus resultados de sucesso.

Portanto, saber por que vale a pena e obter capacidade de foco no momento presente aumentam em muito a possibilidade de sucesso na superação de barreiras internas e no desempenho profissional.


- Até que ponto o desenvolvimento profissional e pessoal está relacionado com a autorrealização?

A jornada é longa, composta de muitas fases. Sempre me refiro a uma forma que encontrei de explicar as fases baseada em minha própria experiência. Batizei de Teoria das Janelas: sempre que damos partida em uma nova fase da carreira, nos encontramos no ponto inicial da curva de aprendizado; é como entrássemos em um ambiente complexo e ameaçador. Ao longe avistamos uma janela que nos parece bem pequena devido à distância em que nos encontramos dela e as dificuldades de observação que temos. Com o tempo, esforço e as experiências obtidas naquele ambiente que estamos, vamos desmistificando a complexidade e progredindo em direção aquela janela antes tão distante. Estamos no meio do caminho e conseguimos enxergar o que acontece do outro lado. Em uma avaliação precipitada, sentimos que talvez não sejamos capazes de sobreviver do outro lado. A briga então será interna de resistir ao conforto de permanecer onde estamos, seguros, valorizados pela excelência. Parece muito bom, mas pode não ser sustentável. Vencemos então a resistência e seguimos. Quando chegamos bem na borda da janela, notamos que talvez sejamos capazes de avançar. Pulamos a janela e uma nova fase começa.

O momento do reconhecimento da capacidade em progredir é grandioso, este é chamado de autorrealização. Óbvio que precisamos ser reconhecidos por terceiros para que possamos ser notados e escolhidos, porém não devemos esquecer nunca da autovalorização, o reconhecimento do valor próprio será essencial para mantermos a automotivação nos momentos em que a observação externa não nos alcança. Ficarmos firmes, positivos e atentos às oportunidades de aprendizado, aperfeiçoando em um processo de melhoria contínua de carreira aguardando estrategicamente o momento certo.


- E o que o senhor tem a dizer do controle das emoções? Em um mundo corporativo cada vez mais imediatista e, portanto, ansioso, isso pode se refletir no profissional contábil de que forma?

A ansiedade está no ar em todas as camadas da sociedade. Sofremos uma epidemia sem precedentes de enfermidades relacionadas a perda da saúde mental pelas razões já exaustivamente elencadas. Em ambiente corporativo, os estudos apontam para uma escalada ainda mais severa nessa questão. Trazendo luz para o ambiente empresarial e seus profissionais, podemos afirmar sem medo de errar que o desafio de se manter equilibrado e saudável é bem grande. Estive particularmente interessado no assunto examinando os assédios da rotina de alguns profissionais. Em linhas gerais, o primeiro aspecto é a complexidade enfrentada para manter-se atualizado em um sistema em constante mudança e atender perfeitamente a todos os requisitos técnicos e gerenciais. Em seguida, ser capaz de atender prazos de entrega sendo que muitas vezes o material recebido de terceiros chega com atraso, incompleto ou cheio de falhas. Finalmente o esforço de apresentar o resultado a um cliente ou gestor muitas vezes com um conhecimento limitado de todos os aspectos que influenciaram o produto final. Some-se a isso os requisitos da vida particular com a saúde, família e lazer. É realmente um ambiente que exige muita capacidade de se manter firme, lúcido e equilibrado tendo como pano de fundo a habilidade de regulação das emoções.

“Emoções são “... episódios de mudanças interrelacionadas e sincronizadas ... em resposta a avaliação de um evento de estímulo externo ou interno como relevante para as preocupações do organismo” (Scherer, 1987, 2001). Portanto, precisamos conquistar a valiosa capacidade de lidar com elas. Conforme explicado na pergunta anterior, a chave do sucesso está no quanto conseguimos gerir nossa atenção e “viver o momento presente, intencionalmente, sem julgamento” (Jon Kabat-zinn). A forma de alcançar essa qualidade de atenção será através de treinamento com práticas regulares de Atenção Plena, assim como fazemos com exercícios físicos para ganho de massa muscular e condicionamento. Somente exercitando o “músculo” cerebral podemos melhorar nossa atenção e reduzir o impacto nocivo da mente ansiosa.


- O profissional que conhece a si mesmo tem mais segurança para trabalhar e tomar decisões relacionadas à carreira?

A resposta curta e objetiva para essa pergunta é sim por tudo o que já foi dito nas perguntas anteriores. Faz parte das habilidades de quem é inteligente emocionalmente o autoconhecimento, saber aplicar com assertividade seu acervo de capacidades e conhecimentos, ao mesmo tempo que tem clareza a respeito de suas limitações. Ao se deparar com questões que transcendem seu campo de sabedoria, não se ofende ou intimida em pedir ajuda ou fazer parte de uma equipe multidisciplinar com alternância da liderança em benefício de um objetivo comum.

Para finalizar, gostaria de deixar registrado que a qualidade central para uma vida profissional e pessoal próspera é a humildade. O poder sempre foi e sempre será circunstancial, ninguém é para sempre e sim, estamos temporariamente alguma coisa.

A humildade é a grande virtude dos vencedores pois através dela nos reinventamos, toleramos e nos mantemos fortes e resilientes na lapidação do nosso propósito maior.

 

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