
Laudio Nogues
Inteligência Emocional (Parte I): o principal trunfo para o líder moderno
Atualizado: 10 de nov. de 2019
Dentro do âmbito empresarial, vou associar a inteligência emocional (IE) às exigências fundamentais e modernas de um líder. Abro mão aqui do conceito do líder atrelado a uma formalização hierárquica.
Falarei do líder engajado, que trabalha em um ambiente moderno com liderança migratória e circunstancial. Portanto, se você não tem um título em seu registro que pressupõe estar em uma posição de liderança, não importa - em algum momento você será chamado a cumprir esse papel.
Outra informação necessária é que grande parte do que vou compartilhar daqui para frente foi baseado ou inspirado nas obras de um dos mais importantes pesquisadores e autores no campo da IE, o psicólogo norte americano Daniel Goleman. Paralelamente, utilizei minhas memórias e experiências de mais de 30 anos como líder em corporações de médio e grande porte para validar o grande poder da IE na condução de negócios.
ELEMENTOS CHAVE DA IE
A primeira descoberta importante no campo da neurociência que contribuiu para aumentar as chances do desenvolvimento da IE foi que a atenção (foco) e a emoção estão entrelaçadas nos circuitos cerebrais. De forma sucinta, isso quer dizer que que o controle da emoção está diretamente ligado ao gerenciamento da atenção.
Essa é uma informação muito importante e, se pararmos para pensar, faz muito sentido. Só recebemos estímulo daquilo em que colocamos nossa atenção. Nosso foco precisa ser seletivamente direcionado para o que realmente importa.
“Líderes precisam conduzir bem a atenção e isso requer uma percepção clara de onde, quando, por que, e em que direção precisamos conduzir nossa consciência.”
É exatamente por isso que o desenvolvimento e a implementação de um robusto referencial estratégico (visão, missão, objetivos e sistema de incentivos), em paralelo com um consistente esquema de comunicação são imprescindíveis em qualquer organização. Estes fatores contribuem muito para que a atenção coletiva esteja voltada para a mesma direção.
- Pare de sobrecarregar o cérebro: faça intervalos a cada 4 horas. Nosso cérebro não está preparado para longas jornadas o foco certo no momento certo. Este conceito é chamado de Tríade da Consciência.
Neste artigo (parte I) será abordado o foco interno e, no próximo, as dimensões do foco no outro e externo (parte II).
FOCO INTERNO
Estar capacitado para trazer sua concentração para dentro de si e ter consciência de como as coisas acontecem internamente.
Controle cognitivo
É o termo científico para colocar a atenção onde queremos e sustentá-la. É a capacidade fundamental da autoconsciência e função executiva do cérebro, localizada no córtex pré-frontal (gerente do cérebro).
“Os mesmos circuitos neurais que permitem a realização obstinada de metas também controlam as emoções rebeldes”.
Exemplos dos sinais de controle
1. Permanecer calmo durante crises
2. Recuperar-se do fracasso ou derrota
3. Ser claro e franco sobre suas forças e fraquezas
4. Ser confiante quando utiliza seus pontos fortes
5. Saber que suas limitações recomendam que recorra a outras pessoas com fortes habilidades na área.
O nosso “Algoritmo Ético” conduz-nos à decisão do certo ou errado.
Sensações viscerais são como “Marcadores Somáticos” - leme interno que, para qualquer decisão, nos informa a soma total de lições pertinentes obtidas de nossas experiências de vida.
É quando sentimos aquele frio na barriga diante de um dilema e da pressão de tomar uma decisão - após termos analisado todos os dados disponíveis, temos aquele momento crucial em que os marcadores somáticos entram em ação e dão o empurrãozinho final. Nossa intuição sobre o que fazer e o que não fazer está incondicionalmente atrelada aos nossos valores.
Para fortalecer seu intervalo de atenção
- Pare de sobrecarregar o cérebro: faça intervalos a cada 4 horas. Nosso cérebro não está preparado para longas jornadas;
- Pratique mindfulness ou atenção plena.
A neurociência por trás da atenção plena baseia-se no conceito da neuroplasticidade:
“O cérebro muda com a experiência repetida, à medida que alguns circuitos se fortalecem e outros definham.”
“A atenção é o músculo mental.”
Existe uma série de exercícios simples que devem ser praticados diariamente para o desenvolvimento da atenção plena. O mais conhecido é o da respiração. Traga a sua atenção para a respiração durante alguns minutos e tente não pensar em mais nada.
Sua mente certamente irá divagar, não resista, somente perceba que divagou. Receba naturalmente o pensamento divagante e deixe-o ir intencionalmente voltando para a respiração. A tendência é que, com o tempo, o número de divagações diminuirá.
Existe boa literatura a respeito. Baseio-me no livro “Atenção Plena”, de Mark Williams e Dany Penman. Este livro é basicamente um manual de aplicação do mindfulness e vem com o CD com os áudios dos exercícios (também pode ser baixado do link fornecido no livro).
3 Soluções rápidas para mente divagante (D. Goleman):
- Administrar as tentações (interferências digitais) – disciplina para inibir ou restringir;
- Monitorar sua mente e refletir – observe onde foi parar a sua mente ao ser seduzido por distrações. Reflita conscientemente, veja quando a sua mente divagou de novo. Esse pensamento desvia a mente da divagação e ajuda a dirigi-la de volta à concentração;
- Praticar ao menos uma sessão diária de atenção plena.
No próximo artigo (parte II) continuaremos a falar sobre as dimensões da atenção, com ênfase no “foco no outro” e “externo”.