top of page
Buscar
  • Foto do escritorLaudio Nogues

Por que Mindfulness ajuda desenvolver competências socioemocionais?

Atualizado: 1 de dez. de 2022




Com o objetivo de contextualizar o argumento deste artigo, recorre-se a Duraiappah, Mercier e Singh (2020, p. XXV, tradução livre):


Devemos reconhecer que os seres humanos são complexos sociais e seres emocionais cujo bem-estar depende de aprender a comunicar suas necessidades uns aos outros de forma eficaz e gerenciar suas emoções de maneira saudável. Essas necessidades e capacidades são universais – todo cérebro humano desenvolve-se para possibilitar habilidades sociais e emocionais como empatia, compaixão e tomada de perspectiva. A empatia é a capacidade geral dos indivíduos de reconhecer a emoção e de ressoar com estados emocionais de outros, como felicidade, excitação, tristeza ou medo (Baird, Scheffer, & Wilson, 2011). A tomada de perspectiva pode ser descrita como a capacidade de considerar os pontos de outros e requer alguma compreensão dos pensamentos, sentimentos, motivações e intenções de outros. Compaixão é a capacidade de tomar ações positivas para aliviar o sofrimento no outro e requer ação comportamental motivada pela necessidade e pelo desejo de melhorar o bem-estar do outro (Klimecki et al., 2012). O desenvolvimento dessas habilidades pode ser dificultado por circunstâncias desfavoráveis da vida e contextos inadequados ou, por outro lado, cultivados e reforçado por um ambiente social apropriado.


Esse trecho é oriundo de um documento muito bem elaborado pelo Mahatma Gandhi Institute of Education for Peace and Sustainable Development (MGIEP), ligado à Unesco, com o objetivo de estabelecer as bases para a introdução de disciplinas que buscam ensinar e fortalecer as competências socioemocionais no sistema de ensino básico global.


Essa iniciativa é a resposta para a escandalosa constatação do avanço de comportamentos extremistas e violentos entre a população jovem, assim como à escalada de diagnósticos de doenças relacionadas a transtornos mentais, como ansiedade e depressão.


A resposta brasileira para esse tema está sendo cristalizada e introduzida gradativamente por meio da determinação de cumprimento da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) (Ministério da Educação [MEC], 1996). A BNCC foi construída com respaldo de diversas fontes, sendo uma delas a própria base da MGIEP, e o Instituto Ayrton Senna vem desempenhando um papel fundamental nesse caminho.


A título de ilustração, longe da pretensão de esmiuçar o tema competência socioemocionais, a Figura 1 demonstra a estrutura do que vem a ser competências emocionais.


Fonte: https://institutoayrtonsenna.org.br/pt-br/socioemocionais-para-crises.html, 2022.


Todo esse esforço encontra-se em estágio embrionário e ainda levará décadas para surtir efeito no mercado de trabalho. Os profissionais em campo atualmente, bem como aqueles que virão em um futuro próximo, não têm ou não terão os ensinamentos das competências socioemocionais forjados nas habilidades conquistadas ao longo de suas jornadas de formação educacional.


As competências socioemocionais ainda ficarão por conta de iniciativas isoladas e pessoais de cada núcleo educacional, seja na família ou mesmo na instituição de ensino com o olhar mais atento para essas necessidades essenciais.


Convictos das demandas do mundo moderno e suas exigências relativas aos comportamentos de um profissional do século XXI, seguimos aguardando essas futuras e privilegiadas gerações, buscando conquistar, da melhor maneira possível, as competências que nos fortalecem em habilidades de relacionamento social e de gestão de nossas emoções.


No entanto, vivemos assediados por um mundo frenético, onde quase sempre estamos preocupados com algum fato do passado que causou consequências indesejáveis ou com o que poderá acontecer no futuro em decorrência de nossos atos e decisões.


Como seres humanos obcecados pela sobrevivência e preservação, estamos visceralmente conectados com o desastre que poderá acontecer. Até mesmo o que poderá ser muito bom, por vezes, pode colocar-nos em situações que desafiam alguma habilidade a qual não dominamos, ou pior, que temos pavor de enfrentar, como pedágio para conquistar o benefício proposto.


O segundo maior medo comprovado entre as pessoas, depois da morte, é o medo de falar em público. Agora, imagine o profissional reconhecido por sua valiosa contribuição em seu projeto sendo convidado para fazer uma apresentação de suas ações para seus pares e a alta direção da empresa em que trabalha quando é exatamente falar em público aquilo que o deixa em pânico.


Obviamente, essa ação projetá-lo-á para cima e aumentará significativamente suas chances de crescimento, sendo este seu objetivo de carreira. Contudo, entre o momento em que recebe o convite até o dia da apresentação, o que é que passa na cabeça desse profissional? E nos momentos que antecedem o evento, como ele se sente? Sugerimos que vocês façam essa reflexão.


Enfrentar nossas limitações não é uma tarefa fácil caso não tenhamos sido expostos a um sistema educacional que nos prepara para isso desde a infância. Às vezes, passamos uma vida estudando como loucos buscando em conteúdos externos aquilo que pensamos nos faltar internamente. Alguns olham para trás e descobrem que essa é uma corrida sem fim, porque, na maioria das vezes, aquilo que julgamos faltar já está dentro de nós, basta saber acessar.


Todos somos o produto resultante da soma da genética com todas as experiências vividas, sendo que a maioria delas são gravadas em nosso subconsciente. Alguns desses componentes internos, muitas vezes imperceptíveis, cumprem a tarefa sistemática de nos sabotar, especialmente em momentos cruciais de nossa jornada.


São nossas vozes internas dizendo-nos constantemente o que somos e o que não somos capazes de realizar. Esta última normalmente se baseia nas chamadas crenças limitantes construídas ao longo de nossa existência.


Essas tormentas mentais surgem na forma de pensamentos, e pensamentos são, de fato, produções de nossa mente, as quais, muitas vezes, não passam de verdadeiras peças de ficção. Essas ficções, se não percebidas como tal, viram verdades em nossa consciência e passam a nos assombrar com uma gama de desconfortáveis somatizações corporais que retroalimentam o círculo vicioso da limitação do potencial.


Enxaquecas, dores musculares, distúrbios gástricos, insônia ou até mesmo enfermidades mais graves são exemplos das respostas biológicas desse sistema, o qual foi nomeado espiral do sofrimento.


Ora, se estamos limitando nosso potencial ocupando uma parte de nossa capacidade máxima com tormentas do passado, outra parte com as mensagens negativas do que pode acontecer de errado no futuro, o que realmente sobra para sermos brilhantes no presente, correspondendo adequadamente às demandas socioemocionais? A resposta será uma fração de quem exatamente somos.


O pior de tudo é que essa fração será a porção que assumirá o papel do todo (100%) perante a avaliação dos outros, e isso significa que as chances de insucesso aumentam bastante ou que o resultado, ainda que favorável, não representa o melhor de nós.


Então, como podemos expandir essa fração de potencial na direção dos 100% nos momentos de pressão? A resposta está na ciência. Comprovações científicas mostram que o caminho para o melhor controle das emoções está na gestão da atenção. Quanto maior a capacidade atencional, maior a chance de equilíbrio emocional. Foco, habilidade em escassez com todos os assédios da vida moderna, passam a ser, então, a chave do enigma.


O exercício da atenção plena (mindfulness) é uma poderosa alternativa para obter sucesso no desenvolvimento das competências socioemocionais. Trata-se de uma evolução gradual, sendo possível fazer uma analogia ao ganho de massa muscular no fisiculturismo. Será preciso disciplina e, principalmente, resiliência para resistir aos desafios da prática, os quais aparecem imediatamente. Já os benefícios, estes vêm com a constância e se tornam perceptíveis em uma escala crescente.


Duraiappah et al. (2020, p. XLV, tradução livre) validam o mindfulness como ferramenta essencial no processo:


Programas de desenvolvimento profissional de professores baseados em mindfulness, projetados especialmente para lidar com o estresse e os problemas socioemocionais, no contexto da sala de aula, foram considerados eficazes na promoção do bem-estar, na redução do sofrimento psicológico e na melhora da qualidade nas interações.


A definição mais usual, elaborada pelo Dr. Jon Kabat-Zinn , um dos maiores nomes no tema, é: “Viver o momento presente, intencionalmente, sem julgamento” sendo que a lógica da prática se baseia na condição de perceber os movimentos da mente como um observador distanciando os pensamentos de nossa consciência e deixando que eles sejam o que são de fato: produções de nossa mente, assim como a projeção de um filme em uma tela imaginária.


Um dos exercícios mais utilizados na meditação mindfulness é a respiração consciente, prática que emprega o movimento respiratório como âncora corporal e referência para fixar a atenção, sempre sustentando uma postura ereta e altiva, que transmita a nosso cérebro a intenção de estarmos presentes e atentos. Ao perceber o movimento de divagação, assumimos, então, uma atitude de abertura, curiosidade e gentileza para conseguir desapegar do conteúdo e conduzir a atenção de volta à âncora intencional de atenção, o movimento respiratório.


Existem muitas outras formas de práticas mindfulness, sendo algumas formais, como a da respiração, e outras informais, como caminhar, escovar os dentes, tomar banho e muitas outras tarefas comuns que se pode fazer em um estado mental de atenção plena.


O exercício da atenção plena como uma atitude intencional em todos os momentos da vida é a pedra fundamental para o sucesso no desenvolvimento das habilidades socioemocionais, pois ela nos dá o eixo de equilíbrio essencial para exercer as habilidades humanas requeridas.


Vejamos, na sequência, alguns benefícios e desafios da prática regular de mindfulness, lembrando sempre que os benefícios são graduais e subjacentes.


Benefícios

· Redução do estresse e da ansiedade.

· Desenvolvimento do foco e da concentração.

· Qualificação dos relacionamentos e da liderança.

· Melhoria no autoconhecimento e no equilíbrio.

· Desenvolvimento da intuição, da criatividade e da inovação.

· Renovação da saúde e do bem-estar.

Desafios

· Dúvida (“Será que isso funciona?”).

· Inquietude (coceiras, dormências e urgências são as respostas comuns do corpo).

· Buscar um benefício imediato (praticar com o objetivo de obter uma vantagem).

· Aversão (sensações aversivas somatizadas em palpitações, calores e falta de ar).

· Sonolência (deixar-se levar pelo sono pensando que o relaxamento é o objetivo).


O segredo é conseguir conectar sua mente a seu corpo, porque este sempre está no momento presente, já sua mente, nem sempre.


Agora que você já deu o primeiro passo, lendo este artigo até o final, siga em frente e mãos à obra. Boa sorte!


Referências

Duraiappah, A., Mercier, J., & Singh, N. C. (Coords.). (2020). Rethinking learning: a review of social and emotional learning for education systems. New Deli, India: UNESCO MGIEP. Recuperado de https://d1c337161ud3pr.cloudfront.net/files%2F826f3ee4-e808-44e3-9da6-49c2c744e0c9_Rethinking%20Learning%20SDM.pdf

Instituto Ayrton Senna. (2020). Competências socioemocionais para contextos de crise. Recuperado de https://institutoayrtonsenna.org.br/pt-br/socioemocionais-para-crises.html

Ministério da Educação [MEC]. (1996). Base Nacional Comum Curricular. Recuperado de http://basenacionalcomum.mec.gov.br

Williams, M., & Penman, D. (2015). Atenção plena: mindfulness. Rio de Janeiro, RJ: Sextante.

Orientação da Professora Mestra Rossilene Milhomem Jardim. Pesquisa em desenvolvimento da imaginação e criatividade. Lattes: http://lattes.cnpq.br/2747383486566016



81 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page